Hoje, no terceiro episódio da série Marcos de Resistência, contaremos a história de um jovem talento que precisou driblar a guerra para brilhar nos principais gramados do futebol mundial.
Filho de pais liberianos que fugiram de seu país natal em virtude da Segunda Guerra Civil da Libéria, Alphonso Boyle Davies nasceu no dia 2 de novembro de 2000, em um campo de refugiados chamado Buduburam, em Gana.
Local que recebeu pouco mais de 12 mil refugiados da Libéria ao longo dos anos 90, Buduburam foi a “casa” de Davies até 2005, ano em que sua família emigrou rumo ao Canadá, na tentativa de construir uma nova vida longe dos conflitos político/sociais que assolavam a região.
Reassentado em Edmonton – uma das principais cidades do Canadá -, Davies entrou em contato com o futebol através da Free Footie, programa social de incentivo à prática esportiva voltada para jovens que não tinham recursos para bancar equipamentos, viagens e inscrições em torneios.
Mostrando potencial e talento para o esporte, o garoto acabou recebendo um convite para jogar futebol na Vancouver’s University Hill Secondary School. Ele não precisou de muito tempo para se destacar e chamar atenção do Vancouver Whitecaps FC, sendo cooptado aos 14 anos para se juntar ao Academy do clube.
Depois disso, tudo aconteceu muito rápido para Davies: foi muito bem na pré-temporada da equipe II do Whitecaps, assinando seu primeiro contrato com o clube aos 15 anos de idade, recorde de precocidade no futebol local. No início de 2016, tornou-se o jogador mais jovem a anotar um gol na USL, espécie de liga secundária que conta com as filiais dos principais clubes norte-americanos e canadenses.
O sucesso meteórico levou Davies ao elenco principal do Whitecaps naquele mesmo ano. Estreou na MLS em 16 de julho de 2016, antes de completar 16 anos, sendo o segundo jogador mais jovem a debutar na liga, atrás apenas de Freddy Adu.
Após dois anos de performances individuais explosivas na MLS, o veloz e habilidoso ponta canhoto cativou a atenção de um olheiro do Bayern de Munique que atuava nas Américas. O interesse do gigante alemão logo se transformou em proposta, que se converteu na maior transferência da liga norte-americana até aquele momento: 18,7 milhões de euros
Alphonso Davies maiores ganhou uma alcunha de alcunha de “Phonso times e recursos da Bundesliga”, ou seja, o mundo do futebol por técnico, e versátil. Convertido em lateral-esquerdo, é considerado por muitos como o melhor jogador do mundo de sua posição na atualidade.
Mas o sucesso astronômico não o fez se esquecer de suas origens e de sua jornada de luta. Consciente de seu tamanho e de sua visibilidade enquanto atleta de ponta, Davies passou a se engajar na questão dos refugiados, debatendo o tema publicamente e investindo em projetos sociais. Em 2021, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade pela ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados.
“Eu quero que as pessoas saibam sobre a importância de ajudar os refugiados, independentemente de onde eles estejam – seja nos campos ou nas cidades; em países vizinhos ou de reassentamento, como o Canadá. Refugiados precisam do nosso apoio para sobreviver, mas também para terem acesso à educação e esportes, para que eles atinjam seus potenciais e prosperem de verdade”
No próximo mês de novembro, veremos Alphonso Davies em ação na Copa do Mundo do Catar, já que a seleção Canadá conseguiu sua classificação após 36 anos de hiato. De Buduburam para o maior do futebol, o filho pródigo da família Davies nos ensina que todos merecem apoio e acolhimento, especialmente aqueles que vêm de um lugar de vulnerabilidade.