Defensor argentino de 35 anos é um dos pilares da boa campanha colorada no Brasileiro.
Não era de se estranhar que houvesse algum receio quando Gabriel Mercado chegou ao Beira-Rio, na metade da temporada passada. Não pelo que o zagueiro havia sido em sua carreira vitoriosa — formado no Racing, campeão pelo Estudiantes e emblema de um River Plate vitorioso, além da passagem marcante pelo Sevilla e da presença na Copa do Mundo 2018 com a seleção argentina. A possível desconfiança pairava sobre as condições físicas que poderia apresentar um defensor que sempre foi reconhecido pela imposição e na época já somava 34 primaveras, momento da vida em que o corpo já ameaça ignorar certos comandos. Aquele ponteiro parece mais rápido do que cinco anos atrás. A panturrilha fraqueja às vezes.
Cerca de um ano após vestir a camisa colorada pela primeira vez, o fato é que Gabriel Mercado apresenta apenas as qualidades positivas da maturidade, como ficou provado na apresentação exuberante diante do poderoso ataque flamenguista. Como já correu muito, conhece cada palmo do campo e as mínimas ranhuras que cercam a sua grande área — três passos de hoje percorrem a mesma distância que vinte pernadas de anos atrás. Como já mastigou muito marimbondo, sabe a hora exata em que apenas a língua do sarrafo pode resolver certas discordâncias. Assim, converteu-se em um dos principais alicerces sobre os quais se sustenta a solidez defensiva do time de Mano Menezes. Gabriel Mercado esteve em campo em 24 das 30 partidas disputadas pelo Inter no Brasileiro — em onze delas, os colorados saíram de campo sem ter a meta vazada. Junto com Vitão, espécie de alma gêmea que encontrou em Porto Alegre, faz do Inter a segunda melhor defesa do campeonato, com 26 gols sofridos (seis a mais que o Palmeiras).
Chama a atenção que Gaby (para os íntimos) ainda não tenha marcado nenhum gol com a camisa colorada (até fez um, cabeçada cinematográfica contra o Botafogo, anulado por um VAR preciosista e amargo), pois nos áureos tempos de River Plate, quando o clube de Núñez começava sua ascensão no cenário sul-americano, Mercado notabilizou-se por comparecer às redes em momentos decisivos. Com a casaca millonaria, venceu Sul-Americana, Recopa e Libertadores. Também na Copa do Mundo mostrou que não apenas de fortaleza física vivem os caudilhos da zaga — foi dele a assistência para Rojo marcar o gol agónicocontra a Nigéria, que levou o despedaçado time de Jorge Sampaoli para as oitavas na Rússia. Também sua personalidade revela surpresas — apesar da compleição física algo intimidante, do pescoço invisível do Mercado e das feições um tanto transtornadas, é um cidadão de índole afável e tom de voz ponderado.
O ímpeto artilheiro não é gratuito. Na verdade, é herança dos tempos de pibe em Puerto Madryn, cidade da província argentina de Chubut, já na região da Patagônia. Na Capital Nacional del Buceo (sendo que “buceo” significa “mergulho”), também famosa pela aparição de baleias em suas águas frias, o que no River lhe rendeu o apelido de LA ORCA, em sua tenra idade Gabriel Mercado jogava como camisa dez e outras vezes até como centroavante. Torcedor do San Lorenzo, seu pai pedia que se movimentasse como o meia brasileiro Silas, ídolos dos azulgranas. Mesmo nos primeiros anos de Racing, onde fez as categorias de base, jogava adiantado e era o responsável pela cobrança de bola parada.
Foi aos poucos que Mercado ouviu o chamado da zaga, posição para onde convergem os homens que se propõem a enfrentar grandes responsabilidades. E lá, vendo o campo inteiro de frente, começou a construir a trajetória que o transformaria nessa entidade de pura eficiência e precisão, um tanto amedrontadora também, pois assim se vestem os zagueiros para encarar o mundo. Uma trajetória que é extensa, mas ainda está em construção, como mostram as atuações com a camisa colorada.
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