Renato Augusto abre o jogo sobre clima no Corinthians, relação com VP, lesões e choro na Copa

Resumo
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Em entrevista ao ge, craque do Timão diz que ainda sonha com a seleção brasileira, mas que foco é no clube; dentre outros assuntos, ele até reclamou do preço das figurinhas do Mundial

Pela categoria com que trata a bola e a visão apurada que tem do jogo, há quem brinque que Renato Augusto atua de terno, tamanha elegância. Já fora de campo, o meia também mostra inteligência e repertório nas entrevistas, mas dispensa qualquer traje formal. 

De chinelo, bermuda e regata, Renato Augusto recebeu a reportagem do ge no CT do Corinthians para um conversa franca e divertida de mais de uma hora, na qual passou pelos mais variados temas.

Da vida na China às ameaças recebidas pelo amigo Willian. Do papel de liderança no elenco alvinegro ao relacionamento com o técnico Vítor Pereira. Do choro no vestiário após a eliminação da Copa de 2018 ao preço das figurinhas do Mundial do Catar. 

– Pô, tá caro pra caramba! – queixou-se.

O meia não está no álbum deste ano, mas não desiste do sonho de ser convocado novamente por Tite. Porém, diz que o foco está no Corinthians e na chance de voltar a ganhar a Copa do Brasil 16 anos depois (o Timão disputa a semifinal contra o Fluminense).

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Atualmente com 34 anos e esperando o nascimento do segundo filho, Renato Augusto integra uma das últimas gerações que viveu o futebol “analógico”, sem redes sociais e câmeras de celulares por todos os lados. Com certa nostalgia, o meia diz que prefere o “olho no olho” e faz uma análise das mudanças provocadas pela tecnologia na vida dos jogadores de futebol: 

– Quando eu subi para o profissional, tinha acabado de ser campeão da Copa do Brasil. Pô, Renato Augusto, nome fortíssimo. Mas eu andava na rua e ninguém sabia quem eu era. Eu ia para o colégio, estava terminando o ensino médio, e no ônibus tinha um cara olhando minha nota no jornal, e eu ali do lado, dando aquela olhadinha de canto. Hoje o moleque sobe e todo mundo já sabe quem é, todo mundo segue, o próprio clube te dá mais informações. Estou tentando me adaptar a essa nova era. 

Nesta entrevista, Renato Augusto também fala sobre o que planeja para o futuro da carreira e como uma conversa com Rógerio Ceni o fez refletir sobre a preparação necessária para ser técnico. Confira:

Ainda acredita que possa ser convocado para a Copa do Mundo no Catar?

– Eu não sei, acho que vai depender muito do meu dia a dia ou do o que ele (Tite) pensa. Claro que todos querem ir para a Copa. Eu joguei uma e sei como é maravilhoso. Mas hoje minha cabeça está muito mais aqui. E eu acho que o que te credencia é fazer um grande trabalho no seu clube. Eu não posso estar com a cabeça na final da Copa do Brasil, por exemplo, se eu não passei da semi. Tem que sempre pensar no próximo passo. É algo que você aprende com o tempo, hoje estou mais focado nisso. Disse, Renato Augusto. 

– Antes, quando tinha possibilidade de Seleção, eu ficava, pô, tenho que fazer alguma coisa diferente. Mas não, você tem que fazer o que sempre faz. Ah, mas o treinador pode estar vendo, melhor fazer alguma… Não, você nunca faz isso, ele veio te ver pelo o que você sempre faz. Se tiver a oportunidade, estarei preparado. Se não tiver, vou seguir igual, o Tite é um cara que eu respeito muito. Sou muito grato a ele, me fez chegar no meu ápice técnico aqui no Corinthians, um momento incrível. Meu carinho e respeito vão ser sempre iguais.

O Tite sabe bem a dor dos centímetros que faltaram para aquele seu chute contra a Bélgica ter entrado, né?

– Eu lembro que depois do jogo eu estava chorando para caramba. Ali eu percebi que você sofre como jogador e torcedor, bicho, é uma mistura de emoções muito grande. Você se prepara quatro anos para isso. Eu estava chorando muito, e o Casemiro estava do meu lado. Aí falei, caraca, Casão… E ele: “Você fez o que deu”. E eu, cara, eu tirei o máximo que dava porque o cara (Courtois, goleiro da Bélgica) é muito grande. Quando eu dominei a bola fica um pouco curto, e se eu dou o tapa, o lateral chega. Então quando dominei, já inclinei o corpo para tentar um pouco de ângulo, para ele cair do lado de lá e eu virar o pé aqui. Só que eu falei, vou tirar o máximo porque ele é muito grande, aí tirei e a bola tirou tinta. Passou dois meses, toca meu telefone, é o Casemiro…

– Ele estica o braço e chega na trave, é muito grande. Mas na hora você tem menos de um segundo para definir a jogada. Foi um jogo diferente. Quando eu entrei no lugar do Paulinho, que é mais de infiltração, e eu mais de criação… E o Douglas tinha entrado muito bem na direita. O Tite falou para rodar a bola nele. Mas quando entrei, vi que tinha um espaço no meio. Primeira bola o Coutinho pegou a bola, eu corri e ele não tocou. Aí eu falei: “Couto me olha que eu vou infiltrar aqui”. E ele: “Tá bom”. Na outra ele me dá, eu cabeceio, e falo: “Me dá mais uma que vou empatar o jogo”. Aí ele me dá, falei, é agora… Passou, não aconteceu o gol. Aí o técnico da Bélgica já coloca um cara ali.

– Teve uma convocação depois da Copa e o Tite brinca comigo: “Quando eu falar para você fazer uma coisa, não precisa fazer (risos)”. Eu falei, pô, professor, o jogo às vezes te pede algo que, quem está de fora, não vê às vezes. Estava do outro lado Neymar, Coutinho, muitos virados para a esquerda, e o Douglas aberto do outro lado. Não tem como pegar todos, tem um espaço. Quando eu tive a oportunidade, infelizmente a bola não entrou. Eu brinco, se a bola entra a gente não saía do estádio mais. Achance da virada era muito grande, massacramos bastante no segundo tempo. Não só minha bola, teve do Couto, do Neymar, o pênalti escandaloso no Jesus. Tem coisas que não se explicam, talvez se jogássemos mais dez horas ali, a bola não entrava.

Sobre mais um companheiro seu de ataque, o Yuri Alberto, como está sendo o encaixe com ele e você Renato Augusto?

– A gente tem que ter um pouco de paciência, acabou de chegar, estava em outro lugar, nunca tinha jogado aqui, é jovem, então requer um pouco mais de tempo. É um belíssimo centroavante, sabe escorar, chega bem na área, tem velocidade, chuta bem, cabeceia bem, então acho que estamos muito bem servidos de nove. Acredito que ele vai crescer muito mais. Talvez não nesta temporada, talvez na outra, tudo pode acontecer. E aqui no Corinthians tudo aumenta, um gol vira golaço, um passe ruim ele não vira mais nada, então temos que ter os pés no chão, não ouvir tantos os elogios e críticas para poder crescer passo a passo. 

E como poderia ter sido um time, que muitos torcedores imaginaram, com você, Willian, Yuri Alberto e Róger Guedes?

– Não tem como saber. Eu procuro não lamentar muito o que deixou de acontecer. Eu sei o que eu posso fazer agora. Temos três jogadores jovens na frente, são rápidos, sabem movimentar, então vamos aproveitar o que eles têm. A gente vem em uma crescente boa nos últimos jogos, apresentando um futebol melhor, criando mais, finalizado mais. Às vezes, você precisa crescer no momento exato da temporada, e acho que está acontecendo com a gente. Estamos na briga pela final da Copa do Brasil, a três jogos de um título. É crescer no momento certo para ser campeão e botar a história no título.

Sobre a saída do Willian (após ameaças de torcedores), como você enxergou tudo isso?

– Primeiro, é triste. Esquecer o lado atleta, jogador, vamos olhar para o lado pessoal. É triste passar por uma situação dessa. Ainda mais em um clube onde, às vezes, essa pessoa que mandou a mensagem representa os 30 milhões. Mas eu sei que a torcida em si não faz isso. Mas por outro lado, pô, é doído para quem sofre. Eu não vi do meu, até porque eu não sou muito de redes sociais. Até tento um pouco, mas não sou muito dessa parte. Então não quis me meter muito nisso. Talvez até tenha, se eu baixar e olhar um pouco vai ter um xingamento (risos). Eu falei antes aqui, eu procuro não olhar muito as críticas e os elogios. Eu sempre fui muito autocrítico na carreira. Tem momentos que eu falo, hoje não fiz um jogo bom, e todo mundo falando que eu joguei muito. Não é possível.

E tudo acontece pela internet, desde as ameaças até aos elogios. E você pega justamente essa mudança de um mundo mais analógico para um digital. Como é tudo isso para você? 

– As pessoas agora chegam mais próximas de você. Antes você conseguia se isolar um pouco e pensar só nisso. Hoje, tanto elogios, como críticas, chegam muito rápido. Acaba o jogo, primeira coisa que o cara faz é pegar o telefone. Tem vezes que acontece alguma coisa, e a gente fala, nem olha. Nem olha porque vai te botar mais para baixo, agora é hora de trabalhar. Depois, em um momento melhor, você dá sua olhada. Eu estou tentando entrar nesse meio ainda (risos), mas eu gosto muito do olho no olho, não consigo muito me sentir à vontade com esse negócio de internet, fazer essa troca em rede social.

Renato Augusto , Se você tivesse a caneta do Duilio, já estaria tentando renovar com o Vítor Pereira também?

– Eu sou contra troca de treinador. Não gosto. Troca de treinador é no final da temporada. Você começa a criar várias variáveis de risco, porque você troca a forma de treino, por exemplo. Eu não gosto. Claro que tem situações insustentáveis que têm que trocar, mas não era o caso (recente com Vítor). Tem que ser no mínimo até o final da temporada. Independente se vamos ficar na Copa do Brasil ou não, é o mínimo. Temos que terminar a temporada com ele. Todo treinador coloca um tijolo na sua casa, eu falo isso. E eu peguei treinador de praticamente todas as nacionalidades, franceses, portugueses, espanhóis, alemães, chineses, tudo que você imaginar. E eu percebi que não existe uma receita de bolo, faz isso que você é campeão. 

– Tinha treinador mais reativo, mais proativo, pressão alta, pressão baixa… Qual tá certo? Todos. Por isso que acho que tem que ter um treinador que encaixe com o elenco, isso sim, mas falar que esse tá certo e esse errado, não. Hoje ele entendeu melhor o ambiente. Ele tem quatro, cinco meses de trabalho, mas isso não é nada. O Klopp que é o Klopp teve um primeiro ano horroroso de Liverpool, e hoje você vê talvez o melhor time do mundo. A gente não tem muita paciência, né. O Vitor vem fazendo um bom trabalho, e não à toa chegamos nas quartas da Libertadores, perdemos para o melhor time hoje, estamos na semifinal da Copa do Brasil e vivos no Brasileiro. Então, de uma forma geral, está sendo boa.

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